quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Despedidas


"...a hora do encontro
É também despedida
A plataforma dessa estação
É a vida..."

Lembro-me bem daquele dia, ela descia as escadas próximas ao jardim, estava bela e sorridente. Diferente de outras noites que nos encontramos, você tinha um olhar fixo em mim, queria conversar, no íntimo eu desejava ir embora. Isso não inibiu você em dar os conselhos que queria.

Reconheço, estivemos distante por um tempo, tão longe que não lhe dei a atenção que merecia em nossa última vez juntos. Hoje, tenho consciência do quão especial foi. Peguei no seu cabelo e fiz um cafuné (só depois descobri que você não gostava daquele carinho porque desarrumava seu penteado, sempre tão vaidosa hem, era por amor que você nunca reclamava né?)

Sinto-me triste por não ter aproveitado sua companhia como merecia, tínhamos nossas diferenças, mas hoje entendo sua maneira de ser.

Quantas vezes ao passar pela rua de sua casa não entrei, pensei em te ligar e não o fiz... Sinceramente, arrependo-me.

São essas coisas na vida que ensinam à importância de aproveitar cada momento e não deixar para amanhã demonstrações que você gostaria de fazer. Eu achava que isso era apenas uma frase popular, mas é uma verdade absoluta quando se perde alguém. Aquela era a nossa última noite, você esteve ali, estava se despedindo e não me dei conta.

Olhando para trás, naquele nosso último dia juntos, gostaria de ter dado um abraço bem forte e dizer o quanto te amei. Jamais vou esquecer de quando íamos embora e você ficava no portão da casa observando eu e minha mãe descermos à rua, dos bolos que fazia quando eu chegava, da sopa que não tem igual, das histórias que me contava, nas férias que passei contigo, de um jeitinho especial de implicar comigo, tão pessoal que sinto saudades. Fico feliz que nos últimos anos seu olhar sobre mim era de admiração, estarei sempre grato pelo exemplo de determinação e coragem que me deixou. Sua história de vida foi admirável.

Um dia depois, olhei para você uma última vez, seu semblante era de paz, guardava na face a mesma pessoa forte que conheci. Foi a primeira vez na vida que senti como era perder alguém de verdade. Já nos encontramos em sonhos, você me disse coisas boas, fico feliz por isso, prova que não me esqueceu. Guardei nas minhas coisas um pequeno cãozinho de plástico que te dei na infância e que você guardava orgulhosamente naquela estante junto com as coisas dos outros netos. Só me restaram lembranças e saudades. Sei que você de alguma forma está comigo e com todos que ama.

Aquele era dia, dia de despedida.

Um comentário:

LADY PRI... disse...

Amei essa forma linda de despedida...
Pra mim, a despedida é algo tão doloroso que nem os textos passam meu sentimento...'