terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Norah Jones - Chasing Pirates

Single de Norah Jones em seu novo albúm: THE FALL



De mansinho, Norah Jones vai mais longe
Em "The fall", Norah elimina sua faceta folk e segura uma guitarra, inserindo um fôlego novo e sofisticado à música pop

Norah Jones está à procura de inovação. Aos 30 anos, cabelos curtos e um pouco descoloridos, ela olha por um telescópio de cima de seu prédio-barco, que navega por uma Manhattan estranhamente quieta. A cena aparece em seu clipe de “Chasing pirates” (Perseguindo piratas), faixa que abre o álbum recém-lançado The fall (EMI). E eu não sei como diminuir a velocidade/Minha mente está disparada por perseguir piratas, ela canta no refrão. Apesar da atmosfera fora do comum, o vídeo é facilmente assimilável. O espectador embarca logo no delírio pop-rock da cantora e compositora americana.

“Chasing pirates” sintetiza o momento de Norah. Quando apareceu, em 2002, ela surpreendeu pela qualidade de seu pop jazzístico, sendo uma das maiores responsáveis por puxar a febre internacional das jovens cantoras que compõem. Em sete anos, Norah vendeu 36 milhões de discos, mais que qualquer outro músico nesta década. Agora, mais madura, surpreende de novo. Se fosse como suas colegas abusadas (Lily Allen, Lady Gaga etc.), a mistura do pop-rock a sua música não seria novidade. Mas estamos falando da delicada Norah e, nesse sentido, o rock poderia significar um vilão tão distante quanto perigoso.

Norah enfrentou com bravura o antagonista. Em The fall, seu quarto álbum, ela se afasta de vários traços que a consagraram. O uso econômico do piano é a mudança mais notável. Impossível não se lembrar do instrumento em “Don’t know why”, sucesso do CD Come away with me, que a projetou no cenário internacional em 2002 e lhe rendeu cinco prêmios Grammy.

Naquele ano, Norah foi apresentada como a bela filha mais velha do citarista indiano Ravi Shankar. Mas a primeira impressão logo foi desfeita ao se perceber que sua música era superior a qualquer atestado de qualidade obtido em um teste de DNA. Ao lado de Diana Krall e outras cantoras, ela representou o revival do jazz vocal, apesar de suas canções terem desdobramentos mais próximos do blues e do folk.

Em The fall, ela mantém sua relação com o jazz. Eliminou, porém, sua faceta folk. Norah se levanta e sai de trás das teclas para segurar uma guitarra. Da nova acompanhante, ela extrai melodias como se fossem transpostas do piano, no estilo de suas antigas canções, comedido o suficiente para fazer brilhar o que tem de melhor: sua voz.

Ao lado da composição, o instrumento natural de Norah é o que mais se aperfeiçoou desde que lançou seu último trabalho Not too late, de 2007 – primeiro em que ela participava da autoria de todas as canções. Em The fall, Norah controla a tendência aos sons anasalados em composições sobre relações amorosas ainda melancólicas, e ainda mais pungentes, como em “Even though” e em “Waiting”.

As mudanças na interpretação também se devem à experiência como atriz. Em 2007, Norah protagonizou o filme Um beijo roubado, do diretor chinês Wong Kar Wai, contracenando em igualdade de condições com as atrizes Natalie Portman e Rachel Weisz. Para interpretar a personagem Elizabeth, Norah foi obrigada a usar o mistério e a inocência, características de seu temperamento, como ferramentas de trabalho. Isso fortaleceu sua personalidade artística, o que fica perceptível em The fall.

Norah Jones descobriu que seu melhor vem da capacidade de seguir a si própria. Mesmo em novas parcerias. Entre outros, ela convidou o produtor Jacquire King, conhecido pelo trabalho com a banda de rock americana Kings of Leon. Percorrendo novos territórios musicais, Norah consegue, com The fall, inserir um fôlego novo e sofisticado à música pop.

Por: Mariana Shirai
Fonte:http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI105766-15220,00-DE+MANSINHO+NORAH+JONES+VAI+MAIS+LONGE.html

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Fragmentos perdidos

Era uma vez um espetáculo teatral.
Três amigos dirigiram, atuaram e escreveram uma obra.
Apesar das muitas dificuldades enfrentaram tudo e todos para alcançarem a plenitude de tão belo trabalho.
Nada os destruía.
Os pontuais conflitos de personalidade entre eles não eram capazes de deter o show.
Os invejosos muito menos.
E assim foi. Construíram com entusiasmo uma obra que lhes renderam grandes elogios e certa quantia em dinheiro. Foram tantos os aplausos. Os críticos que torciam o nariz se renderam.

Por fim, o espetáculo acabou. Cada qual seguiria com sua vida, porém, a amizade permaneceria. Para sempre lembrariam-se do extraordinário feito.

O bonito espetáculo que os três haviam criado era composto de várias cenas, porém, uma destas era parte significativa e importante da obra. Um dos criadores resolveu então patentear para si as falas desta cena.

Veio a tempestade...
Os dois outros amigos não concordaram com a decisão.
Porque você tinha de estragar tudo? Disse um.
Éramos três, batalhando dia a dia, sol a sol num objetivo tão bonito, em prol de algo tão espetacular, tomaste para si algo que era nosso, disse o outro.
Vocês brigam por tolice, ainda são os donos da obra, peguei para mim apenas algumas falas de uma única cena. Se quiserem, posso pagar a importância que lhes cabe. Argumentou.

De nada adiantou. Aquela conversa não chegou a consensos.
O que estava em jogo era o valor sentimental da união, esta, maculada por aqueles fragmentos de uma cena que custaria a perfeição de uma lembrança: da grande força que é a amizade e o companheirismo.

Cinza

Eu vejo uma imagem.
Não é amanhecer. É dia.
Não estou dormindo, nem acordado.
Há fumaça e tudo é cinza.
Lá, onde pouco se pode ver existem elementos ambíguos.
Indeterminados por muito tempo mas que agora posso melhor entender.
Você é importante, muito importante, porém no cinza existe uma tumultuada reflexão e essa é solitária.