Às vezes a natureza pinta formas tão bizarras,
que nunca ficariam bem se fossem pintadas pela mão humana.
Qualquer lagosta ou moréia é exemplo claro disso.
Um cachorro de costas, acho que ninguém saberia como desenhá-lo.
Um gole mal dado numa cerveja quente produz uma cara inimitável.
E assim também o insondável brilho dos olhos no primeiro beijo,
o riso incontrolável, que vence os lábios,
ou o insubordinado ato falho, que escapa da prisão inconsciente...
O latejar das veias de um terrorista e o suor que escorre do seu rosto tenso,
no momento de explodir, são o resultado de processos mentais intangíveis.
O olhar atônito sobre a Hiroxima atômica
só continuará nos olhos radioativos de quem a viu.
Ninguém saberia reproduzir o embaraço
de um cãozinho vigiando o cadáver podre de seu único dono.
Ninguém poderia experimentar o nó na garganta do homem-pássaro
3 comentários:
"O olhar atônito sobre a Hiroxima atômica só continuará nos olhos radioativos de quem a viu."
Cara, que bela construção textual! Experiência de leitura indescritível, que comparo ao que sinto quando leio o Pessoa (quando Álvaro de Campos ou Bernardo Soares!) ou a Clarice!
Consegue imaginar o que sinto?! Não, você não me sondaria... e nem eu conseguiria exprimir!
Parabéns pelo belo texto!
Clédson Miranda,
desde http://neonopaisdamatrix.blogspot.com/ e http://falandodecienciaecoisasafins.blogspot.com/ .
Grazie, signore!
Que bom que gostou. Pra mim é uma imensa lisonja ser comparado a Pessoa ou Clarice. Mesmo não sendo merecedor de tal comparação, eu agradeço. Abraço!
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