quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

AMIGOS NO ANDWORD: BIZARRO.

Por: Márcio Matos


Às vezes a natureza pinta formas tão bizarras,

que nunca ficariam bem se fossem pintadas pela mão humana.

Qualquer lagosta ou moréia é exemplo claro disso.

Um cachorro de costas, acho que ninguém saberia como desenhá-lo.

Um gole mal dado numa cerveja quente produz uma cara inimitável.

E assim também o insondável brilho dos olhos no primeiro beijo,

o riso incontrolável, que vence os lábios,

ou o insubordinado ato falho, que escapa da prisão inconsciente...

O latejar das veias de um terrorista e o suor que escorre do seu rosto tenso,

no momento de explodir, são o resultado de processos mentais intangíveis.

O olhar atônito sobre a Hiroxima atômica

só continuará nos olhos radioativos de quem a viu.

Ninguém saberia reproduzir o embaraço

de um cãozinho vigiando o cadáver podre de seu único dono.

Ninguém poderia experimentar o nó na garganta do homem-pássaro

que despencou do céu e se esborrachou no meio da rua sem pedir licença.

3 comentários:

Clédson Miranda disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Clédson Miranda disse...

"O olhar atônito sobre a Hiroxima atômica só continuará nos olhos radioativos de quem a viu."

Cara, que bela construção textual! Experiência de leitura indescritível, que comparo ao que sinto quando leio o Pessoa (quando Álvaro de Campos ou Bernardo Soares!) ou a Clarice!

Consegue imaginar o que sinto?! Não, você não me sondaria... e nem eu conseguiria exprimir!

Parabéns pelo belo texto!

Clédson Miranda,
desde http://neonopaisdamatrix.blogspot.com/ e http://falandodecienciaecoisasafins.blogspot.com/ .

Márcio disse...

Grazie, signore!
Que bom que gostou. Pra mim é uma imensa lisonja ser comparado a Pessoa ou Clarice. Mesmo não sendo merecedor de tal comparação, eu agradeço. Abraço!